Lisette Model, nascida Elise Amélie Félicie Seyberg, a 10 de novembro de 1901 em Viena, na Áustria, foi filha de pai judeu e de mãe católica francesa. Cresceu alegadamente num privilegiado ambiente Vienense juntamente com um irmão e uma irmã, Olga, que terá cumprido um papel importante na carreira de Lisette.
Forçados pelo anti-semitismo crescente por toda a Europa, os Seyberg passaram a Stern em 1903. Família abastada da sociedade austríaca, tanto Lisette quanto os seus irmãos tiveram acesso à melhor educação ministrada por professores particulares. Lisette, apenas como exemplo, era fluente em 3 idiomas.
Durante a década de 1920, Lisette estudou música com o compositor Arnold Schönberg, o pai do dedecafonismo e notável figura na música. A relação entre os dois foi tão importante para Lisette Model, que a fotógrafa sempre considerou Schönberg como umas das figuras mais importantes na sua vida.
Já com 25 anos, em 1926 e dois anos após a morte do pai, numa altura em que a família já cruzaria algumas dificuldades financeiras, Lisette mudou-se para Paris enquanto que a mãe e a irmã se fixaram em Nice. Lisette via em Paris a cidade onde planeava dar continuidade aos seus estudos musicais, passando então do piano para a voz, mas o projeto revelou não ser grande coisa, tanto que no início dos anos 30, Lisette decidiu abdicar da música. Enquanto residia em Paris, conheceu e casou com o pintor russo Evsa Model, também ele judeu. Foi por volta dessa época que deu início à odisseia fotográfica que definiria o resto de sua vida.
Voltando brevemente a Olga, a irmã de Lisette Model, importa referir que esta seria já uma fotógrafa experiente quando Lisette Model deu início ao seu interesse pela fotografia depois de uma breve passagem pelo estudo da pintura. Olga Stern ensinou à irmã mais velha, Lisette, os aspetos técnicos da fotografia, incluindo o trabalho em câmara escura. Olga viria a tornar-se fotógrafa no campo da ciência. Muitas fontes citam também o contributo da sua amiga Rogi André, primeira mulher de André Kertész, para a introdução e instrução de Lisette Model na fotografia, em apenas mais uma das inconsistências em torno da história de vida da fotógrafa.
São muitas as contradições e incongruências, sendo que também este campo e não apenas a fotografia de Model, são alvo de estudo e interesse.
Certo será que pouco depois deste período inicial de aprendizagem, Lisette Model produziu uma das suas séries mais famosas. Criada em Nice entre 1934 e 1937, “Promenade des Anglais”, é um retrato extraordinário dos ricos e relaxados burgueses da Côte d’Azur.
Em 1938, pouco mais de um ano depois de casar, deixou a França com o seu marido, partindo para Nova Iorque.
No início de 1940, cerca de 18 meses após a sua chegada aos EUA, proveniente de uma cada vez mais inóspita França, iniciou aquela que será muito provavelmente a fase mais importante da sua carreira. Model, que tinha sido um ignorado sucesso em Paris e era igualmente desconhecida nos EUA, respondeu a um anúncio que procurava um técnico de câmara escura publicado por um dos novos tabloides da cidade, o PM.
Foi lá que encontrou pela primeira vez Ralph Steiner, editor da coluna de fotografia que, ao examinar o portfólio produzido por Model em Nice, Paris e também em Nova Iorque, a declarou instantaneamente como “uma das maiores fotógrafas do mundo” – se calhar um bocadinho excessivo – recusando a sua candidatura para o lugar já que segundo ele, tal talento não deveria ser esbanjado a processar o trabalho de outros.
Steiner foi quem apresentou Model a Nova York, familiarizando-a com seus colegas na Photo League, através da qual, em 1941, apresentaria a sua primeira exposição individual nos EUA.
Lisette Model conheceu depois Alexey Brodovitch, diretor de arte do Harper’s Bazaar, acredita-se, também por ação de Ralph Steiner. Brodovitch, por sua vez, apresentou-a a Beaumont Newhall, curador do recém-inaugurado departamento de fotografia do Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA). Newhall comprou duas fotografias de Model para a coleção do museu e incluiu-as na exposição “Sixty Photographs: A Survey of Camera Aesthetics”.
De todo este envolvimento, sobretudo com Alexey Brodovitch (Harper’s Bazar), surgiu um dos seus primeiros trabalhos numa revista norte-americana e que resultou nas famosas imagens da banhista de Coney Island, uma interessante, jovial e carnuda personagem à beira-mar. A este trabalho sucedeu-se um constante fluxo de trabalho editorial com a revista nos anos que se seguiram.
O poderoso impacto da cidade de Nova Iorque é inegável no trabalho de Model e isso é evidente em muitas das séries, incluindo “Reflections” (1939–45), nas quais a sua câmera foca as vitrines e as pessoas e arranha-céus da cidade; “Running Legs” (1940–41), evocando a azáfama de homens e mulheres nas ruas da cidade; “Pedestrians” (por volta de 1945), em que Model escolhe homens e mulheres do meio da multidão.
Através do seu trabalho, Lisette Model estava sobretudo interessada em mostrar as diferentes franjas da sociedade. Podemos achar que a representação que Model faz da sociedade é exacerbada nos seus tiques, que há até um excesso de “normalidade”, mas creio, muito honestamente, que é simplesmente porque não olhamos com a devida atenção para o mundo que nos rodeia.
Model estava interessada em descrever todos os aspectos da sociedade moderna – emoção, frustração, tensão, ansiedade e ritmo frenético que moldaram a existência urbana no período da 2ª Guerra Mundial. A predileção de Model por uma abordagem agressiva à captura de imagens renderizou os assuntos que exageradamente preenchem seus planos em figuras e personagens icónicas. O trabalho de Model baseia-se tanto na crítica social quanto no uso da câmera como ferramenta para entender a vida, projetando os desejos e as motivações criativas da artista.
Este turbilhão formativo e social no início da carreira de Lisette Model, que tanta vezes é contado como um breve momento no tempo, levou na verdade alguns meses para se desenrolar, culminando em janeiro de 1941, quando Steiner publicou a série “Promenade des Anglais” na “Galeria semanal” da PM, um espaço frequentemente dedicado à promoção de talentos fotográficos individuais emergentes.
A partir de 1951, Model ensinou fotografia durante cerca de 30 anos na New School (for Social Research) e, durante parte desse período, em aulas particulares realizadas em sua casa. A sua abordagem inflexível e apaixonada à fotografia influenciou muitos de seus alunos, entre eles Diane Arbus e Rosalind Solomon. Foi também docente contemporânea de Berenice Abbott.

Ao longos dos últimos 10 anos dediquei praticamente todos os momentos livres à fotografia que, por imposição de valores mais altos, não possuo como educação formal. Químico por (de)formação, tento partilhar um pouco mais desta paixão aceitando o convite de escrever uns rabiscos aqui no EFE.