Artur Costa Pastor, Artur Pastor com a sua câmara Mamiya, Lisboa, Portugal, 1986 [Arquivo Fotográfico Municipal de Lisboa]Faz hoje, 1 de Maio de 2022, 100 anos que nasceu Artur Pastor.
Em condições correctas e justas, perante o seu trabalho, este seria um momento assinalado com eventos de destaque nacional. Tal não parece ser o caso, não obstante exposições dispersas, e o assinalável esforço de divulgação por parte da família, nomeadamente do filho Artur Costa Pastor.
Institucionalmente parece prevalecer um viés interpretativo que considera a obra de Artur Pastor à margem do “bom caminho” da Fotografia do Século XX. Em entrevistas e programas afloram amiúde considerações justificativas desse “desvio” — a pertença ao círculo do “Salonismo”, o recurso à encenação, a alegada ligação ao Estado Novo pelo seu estatuto de fotógrafo de Ministério e pelo seu registo dum Portugal não urbano, em linha com um regime que desconfiava dos vícios da modernidade urbana e cosmopolita.
Artur Pastor, Recordando o passado, Fão, Portugal, sem data [Arquivo Fotográfico Municipal de Lisboa]Artur Pastor, Traje, palhota e capa de burel, Montalegre, Portugal, 1952 [Arquivo Fotográfico Municipal de Lisboa]Artur Pastor, Ermida do Cruzeiro, Vila do Conde, Portugal, sem data [Arquivo Fotográfico Municipal de lisboa]
Sendo que o “Salonismo” merece uma abordagem histórica e sociológica mais profunda que o afaste da gaveta cómoda que parece ser, que a encenação é um mecanismo profusamente utilizado pela Fotografia contemporânea (e não só), que o registo do Portugal rural e piscatório levado a cabo por Artur Pastor tão frequentemente se afasta do gosto pitoresco e estilizado da dieta estética do Estado Novo ( tendo sido mesmo usado em colaborações com autores longe de ser considerados alinhados com o Estado Novo) , e que a vastidão, variedade e qualidade da obra de Artur Pastor dificilmente permitem categorizá-la, com rigor, em dois ou três lugares-comuns, este centenário deveria ser o momento indicado para sacudir lastros equívocos, e dar a Artur Pastor o reconhecimento público, e institucional, que o valor artístico, documental e cultural da sua obra impõe.
Artur Pastor, Salineiras a carregar o sal, Faro, Portugal, 1943-1945 [ Arquivo Fotográfico Municipal de Lisboa ]Artur Pastor, Avental com fruta, Portugal, 1957-1961 [Arquivo Fotográfico Municipal de Lisboa]Artur Pastor, Lisboa, Portugal, 1955-1970 [Arquivo Fotográfico Municipal de Lisboa]Artur Pastor, Travessia de peões, Lisboa, Portugal, 1970-1990 [Arquivo Fotográfico Municipal de Lisboa]Artur Pastor, Banca de Jornais, Lisboa, Portugal, 1980-1990 [Arquivo Fotográfico Municipal de Lisboa]Artur Pastor, Lojas na avenida João XXI, Lisboa, Portugal, 1972-1974 [Arquivo Fotográfico Municipal de Lisboa]Artur Pastor, Crianças brincando, Alentejo, Portugal, sem data [Arquivo Fotográfico Municipal de Lisboa]Artur Pastor, Varinas carregando cestos à cabeça, Nazaré, Portugal, 1954-1957 [Arquivo Fotográfico Municipal de Lisboa]Artur Pastor, São Bartolomeu do Mar, Esposende, Portugal, 1953 [Arquivo Fotográfico Municipal de Lisboa]Artur Pastor, Jovens a nadar, Póvoa de Varzim, Portugal, 1953-1954 [Arquivo Fotográfico Municipal de Lisboa]Artur Pastor, Redes de Pesca, Albufeira, Portugal, 1970-1990 [Arquivo Fotográfico Municipal de Lisboa]Artur Pastor, Praia de Mira, Portugal, 1955-1970 [Arquivo Fotográfico Municipal de Lisboa]Artur Pastor, Arquitectura, Algarve, Portugal, sem data [Arquivo Fotográfico Municipal de Lisboa]Artur Pastor, Festa de Nossa Senhora da Assunção, Póvoa de Varzim, Portugal, 1953 [Arquivo Fotográfico Municipal de Lisboa]Artur Pastor, “Vida num beco típico”, Olhão, Portugal, sem data [Arquivo Fotográfico Municipal de Lisboa]Artur Pastor, Moinho da praia da Apúlia, Esposende, Portugal, 1950-1962 [Arquivo Fotográfico Municipal de Lisboa]Artur Pastor, Lota na praia dos pescadores, Sesimbra, Portugal, 1943 – 1960 [Arquivo Fotográfico Municipal de Lisboa]Artur Pastor, Pesca do atum, Tavira, Portugal, 1944-1946 [Arquivo Fotográfico Municipal de Lisboa]Artur Pastor, “Avarando o giro do mar”, Armação do Barril, perto de Santa Luzia, Tavira, Portugal,1943-1945 [Arquivo Fotográfico Municipal de Lisboa]Artur Pastor, Ferragudo, Portugal, 1943-1965 [Arquivo Fotográfico Municipal de Lisboa]Artur Pastor, Homens encaminhando gado bovino, Portugal, sem data [Arquivo Fotográfico Municipal de Lisboa]Artur Pastor, Lavadeira com cesto à cabeça, Nazaré, Portugal, 1954-1957 [Arquivo Fotográfico Municipal de Lisboa]
O autor desta coisa nasceu abaixo da linha do Equador, nos últimos anos dessa ficção pouco científica que foi o Império Português. Depois, com quatro anos e qualquer coisa, viu-se nesta estranha terra europeia. Por algum tempo sentiu, através dos pais, uma sensação de deslocamento. Curou-a com livros do Patinhas e do Astérix, documentários da televisão e caçadas ao pássaro. Sofreu do desejo de fazer banda desenhada. Não tinha talento, mas consumiu e copiou tudo que viu.
Foi cursar artes para Faro, nesse tempo sem Internet e em que as bibliotecas tinham todas os mesmos cinco livros de arte. O livro do Janson , da Gulbenkian, tinha um capítulo sobre Fotografia. O pai duma amiga tinha uma Yashica . Fotografaram com ela, mas esta tinha de regressar sempre à casa da amiga. Comprou, com o que ganhou nesse verão, uma Praktica. Ainda a tem.
Conseguiu iludir os professores o suficiente para entrar nas Belas-Artes. Continuou a não ter talento, mas aproveitou imenso. Acabou o curso. Deu aulas. Trabalhou em design. Casou. Tem dois filhos. Continua a ensinar o pouco que sabe. Gosta disso. Gosta de histórias. E gosta de escrever estes disparates.