Henryk Ross foi um fotojornalista judeu polaco que, em virtude da obsessão burocrática dos ocupantes nazis, foi recrutado para ser o fotógrafo da administração do ghetto de Lodz .
Como as autoridades alemãs forneciam apenas o filme necessário para o trabalho atribuído, que ia de imagens de propaganda a fotografias de identificação, Ross engenhosamente arranjou uma forma de fazer três exposições no espaço de negativo em que habitualmente se faria apenas uma.
Com os dois terços de película que conseguia poupar, arriscando a sua vida num acto de resistência, realizou o retrato único da vida diária e do terror do ghetto de Lodz.
Em 1944, com o encerramento final do ghetto em andamento, enterrou cerca de seis mil negativos, guardados no interior de latas encerradas numa caixa de madeira, na esperança que sobrevivessem com prova.
Após o fim da guerra, tendo ele próprio sobrevivido, conseguiria resgatar a caixa, mas cerca de metade dos negativos estavam danificados para lá de qualquer recuperação. Os restantes, porém, seriam suficientes para nos transmitir a realidade dum momento em que um mal inqualificável adquiriu o estatuto de normalidade.
Em 1961, Henryk Ross seria testemunha no julgamento de Adolf Eichmann, e algumas das suas fotografias clandestinas seriam usadas como prova.

Crianças a serem levadas para o campo de extermínio de Chelmno nad Nerem, Lodz, Polónia, 1942
Texto e selecção de imagem: Não me mexam nos JPEGs / Júlio Assis Ribeiro