O valor de uma câmera nunca depende exclusivamente da tecnologia integrada, sobretudo de falarmos de câmeras que são simultaneamente ferramentas de criação e objectos de inspiração. Quando falamos de uma Leica, falamos vulgarmente de uma relação muito próxima entre o objecto tecnológico e o object d’art.
Sabemos que a câmera mais dispendiosa de sempre é, sem grande margem para dúvidas, a Leica O (n. 122) de 1923, leiloada em 2012 a comprador anónimo pela módica quantia de 2.4 milhões de euros (2M no martelo + 400K de prémio). Tal valor brotou não exclusivamente da qualidade do objecto, que à luz do dias de hoje seria discutível, mas sobretudo da raridade e do cariz histórico, sendo que é o precursor da série A, a primeira câmera comercial com filme de 35 mm. Foram originalmente criados 25 protótipos, dos quais resistiram ao tempo apenas 12 e em perfeitas condições… apenas 3.
A Leica M9-P, “Hermès”, tem o seu impressionante valor comercial definido, não por aquilo que foi, mas sim por aquilo que virá a ser. Primeiro, é uma celebração da amizade que existe entre o antigo presidente da Hermès, Jean-Louis Dumas, e a Leica. Este é o cunho “histórico”. Segundo, é uma edição limitada a 100 exemplares, garantindo assim o factor “raridade”. Terceiro, tem uma aparência extraordinária, e é construída com a mestria tradicional da marca. Quarto… é uma Leica.

Ao longos dos últimos 10 anos dediquei praticamente todos os momentos livres à fotografia que, por imposição de valores mais altos, não possuo como educação formal. Químico por (de)formação, tento partilhar um pouco mais desta paixão aceitando o convite de escrever uns rabiscos aqui no EFE.